Quentin Tarantino – Auge da Cultura Pop no Cinema.


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Quentin Tarantino – Áuge da Cultura Pop no Cinema.
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Por Rafael Lopes

O diretor Quentin Tarantino tem uma das mais bem sucedidas carreiras no mundo do cinema. Trata-se de um cultuado diretor que nos anos 90 apareceu com tudo e ganhou o mundo, com o seu jeito peculiar de fazer cinema, aliando referencias a filmes antigos e utilizando a exaustão à cultura pop como carro chefe. Nessa brincadeira ele possui uma invejável filmografia.

E se há uma coisa que ele sabe fazer bem é filme. Digo, repito e defendo: ele não tem filme ruim. São filmes que vão além da pura diversão. O trabalho no ramo começou em pequenas pontas em filmes e séries de TV e escrever roteiros, mas a sua chance apareceu, quando decidiu dirigir seu primeiro filme. Um filme praticamente feito por amigos e co produzido por Harvey Keitel (grande nome do filme) e os anos 90 começam badalados por Cães de Aluguel em 1992.

No filme, seis estranhos assaltavam uma joalheria, mas a novidade da coisa toda era que: o filme não focava na ação, mas sim nos personagens e em como os fatos afetariam suas vidas. A hora de dividir o produto do assalto é o clímax, e Tarantino constrói e desconstrói o caráter de todos eles, criando um bando de anti-heróis que significava o nascimento de um diretor pop, talentoso e diferente para os padrões hollywoodianos.

O filme foi um grande estouro, muito bem recebido pela crítica que viu naquele filme, um talento todo especial do diretor em conduzir seus personagens numa trama tensa e recheada de reviravoltas.O resultado foi positivo e as grandes distribuidoras cresceram os olhos pro rapaz.

Nesse período teve dois roteiros levados às telas: Amor à Queima Roupa, de Tonny Scott e Assassinos Por Natureza, de Oliver Stone. E o seu prestígio só aumentava no ramo.

Ajudou Roger Avary a levar seu filme às telas, co produzindo Parceiros do Crime e em troca, Avary o ajudou no roteiro de seu maior sucesso até então, o aclamado e cultuado Pulp Fiction – Tempos de ViolênciaO filme é o que podemos chamar de “grande cartada”. Tarantino demonstrou que não precisava de um grande orçamento pra contar uma história, então, com apenas 8 milhões de dólares, juntou os amigos mais uma vez (entre eles Harvey Keitel) e atores que precisavam de algo para dar uma guinada na carreira.

Na época, grandes astros como Bruce Willis e John Travolta, estavam em decadência, com péssimos projetos e filmes não muito bem recebidos pelo público. Travolta aceitou 150 mil dólares para atuar no filme. Resultado: foi indicado ao OSCAR. Bruce Willis arrasou, e mostrou que realmente sabia atuar. Mas não só isso. Tinha ainda um Samuel L. Jackson surgindo no cinema, e aqui provou seu talento num personagem maior, e que lhe rendeu uma indicação ao OSCAR. Sem contar o retorno de Harvey Keitel, como citei acima e Tim Roth (ambos atuaram em Cães de Aluguel) e o quase retorno de Michael Madsen, que não pode voltar por conflitos na agenda. Em seu lugar foi escalado Travolta e vocês já sabem no que deu.

O filme é um grande marco na carreira dele. Criativo e inventivo, ele contou a história de 3 caras envolvidos com o crime e as reviravoltas em suas vidas. O roteiro enxuto e sem lenga lenga lhe rendeu um merecido OSCAR e um Globo de Ouro.

Além de várias outras indicações. E se em Cães de Aluguel ele foi assumidamente influencia pela música (lembre da narração em off de um programa de rádio e a ligação das músicas com as cenas ou mesmo o diálogo sobre Like a Virgin), aqui ele se mostra muito influenciado pela literatura, mas não qualquer tipo de literatura, é algo mais marginal, com gírias e comportamento fora do habitual. A sacada foi ótima.

E foi também em Pulp Fiction que aconteceu a primeira parceria com a sua musa Uma Thurman. E durante as filmagens, Tarantino disse a ela “nosso próximo filme será Kill Bill”. Depois do sucesso de Pulp Fiction, ele ficou de molho por um tempo. Nesse período, deu uma grande ajuda ao novo amigo Robert Rodriguez. Atuou em A Balada do Pistoleiro, continuação do sucesso El Marichi, escreveu o roteiro do delicioso Um Drink no Inferno e ainda atuou na aventura vampiresca ao lado de velhos amigos como Harvey Keitel e dirigido por Rodriguez. E pra completar, ainda dirigiu um episódio da comédia Grande Hotel, também ao lado de Rodriguez.

E depois de muito esperar, ele vem com algo fora do comum. Já influenciado pela música e pela literatura em seus filmes anteriores, agora é hora de prestar uma homenagem ao cinema que o influenciou em seu estilo. O cinema de artes marciais orientais, que revelou Bruce Lee e seus derivados, são docemente homenageados em Kill Bill Volume I. Com diálogos em japonês, lutas coreografadas, closes, trilha sonora, tudo, tudo, tudo, até animes. A salada de referencias rendeu um dos melhores filmes da década!

Violento ao seu modo, humorado ao seu modo
, em alguns momentos tosco, mas tosco com classe, estiloso e não êxito em dizer, mas o filme é lindo. Não lindo piegasmente (essa palavra existe?) falando mas lindo no amor dado pelo diretor na hora de conduzir seu filme. Filmado simultaneamente com o segundo episódio, o primeiro é tão independente que chega a assustar. Mais focado na ação que na história, o filme consegue nos prender até seu final revelador e que nos instiga a ver a segunda parte.

E em Kill Bill Volume II, ele continua a prestar homenagens a seus influentes. Enquanto no primeiro ele fez isso para os orientais, era a hora de fazer pros seus conterrâneos. O cinema faroeste é muito lembrado nessa segunda parte da sua trama de vingança. Sem esquecer claro das influencias orientais que reinaram no 1° filme (ainda mais por uma questão cronológica), mas no segundo, além da história ser mais focada que a ação (lembrando os filmes de Sergio Leone, não me pergunte porque), não perde a qualidade do primeiro, tampouco se torna cansativo. É um filmaço, onde Tarantino conseguiu explorar muito de sua criatividade, seja narrativa, seja como cineasta.

E no segundo, ele declara seu amor a Uma Thurman, grande colaboradora do projeto, e que fez um dos trabalhos mais apaixonados que já vi. E David Carradine, como um dos vilões mais incríveis da década, e atuando incrivelmente bem, principalmente quando faz uma teoria sobre o Super Homem que achei fabulosa.

Kill Bill Vol. II tem também uma das melhores trilhas sonoras que já vi em filme.

Tem muito Ennio Morricone

(lembra quando falei sobre a ligação do Vol. II com filmes faroestes?), músicas mais “texanas” e a presença de Robert Rodriguez, que por apenas 1 dólar, fez as músicas do filme, com destaque para a grande ”Malaguena Salerosa” que fecha o filme, e é tocada pela banda Chingon, da qual Rodriguez é o guitarrista.

Os dois Kill Bill (que na verdade são um só) representam muito na carreira do cara. Foi onde ele demonstrou toda a desenvoltura e criatividade que um cineasta tem. E pra devolver o favor que Rodriguez fez a ele, por 1 dólar filmou uma seqüência do excelente e embasbacante Sin City – A Cidade do Pecado. E não demorou muito pra sair outra parceria com Rodriguez. Dois anos depois, surge o projeto Grindhouse, onde ambos prestam homenagens às grandes exploitations que tanto admiravam na infância. Rodriguez veio com o divertido Planeta Terror e Tarantino com a maior molecagem da sua carreira.

O filme À Prova de Morte é o seu trabalho, digamos, mais autoral. Mas não é nada sério, é diversão pura. Com referencias que vão desde seus filmes, principalmente Kill Bill (com direito a uma cena onde a menina atende o celular onde o toque é aquele assobio que ficou famoso com o filme). Sem contar também, as referencias a filmes de ação antigos. É sem dúvida seu filme mais divertido, porém, não tão expressivo quanto os outros.

E por falar em filmes não tão expressivos, ele tem um pouco lembrado pelo público. Mas mesmo não sendo tão lembrado, não deixa de ser um filmaço. Trata-se de Jackie Brown, único filme do diretor adaptado de outra fonte. Com um grande elenco e repeteco de alguns nomes, Jackie Brown só tem mesmo o estilo pop de contar a história, nada mais. Mas ainda assim, um bom filme, imperdível para os fãs.
Depois de mais um molho, ele prometeu um filme de guerra. E passou pela minha cabeça, o que Quentin Tarantino faria em um filme de guerra?
Pegue um grupo de soldados judeus que partem na França dominada pelos nazistas para tocar o maior terror, pegue uma missão inglesa a fim de acabar com o III Rich, e depois, uma vingativa judia e coloque num cinema recheado de nazistas, com direito à corja de comandantes: Bastardos Inglórios, melhor filme dele. Ele não precisou dirigir grandiosas cenas de combate, ele não precisou contar uma história verídica, ele não precisou de nada que já tivessem contado antes. Ele criou personagens, situações e à sua maneira, contou a II Guerra Mundial de maneira mais que eficiente.

Lançado em 2009, muito aguardado tanto pela crítica quanto pelo público, aqui Tarantino atinge a maturidade como diretor, ainda usando influencias pop e de filmes que ele admira e fez um apaixonado filme de guerra dedicado ao cinema.
Pra mim, ele não precisa de mais nada pra provar seu talento.

Todos os filmes que fez são especiais, cada um. São a mostra de que ainda existe gente que faz filme com a mesma paixão de antigamente, renegando sabiamente as regalias e gracejos que outros diretores exigem.

Quentin Tarantino, uma salva de palmas. Seu trabalho de incomensurável qualidade só somam para o cinema.